O Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) manifestou preocupação após as declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre a construção do primeiro data center do TikTok na América Latina, anunciado durante evento em Fortaleza nesta quarta-feira, 3. Lula apresentou o empreendimento como vetor de desenvolvimento tecnológico e destacou que sua adequação dependeria da confiança em autoridades políticas locais.
“Eu saio daqui hoje, companheiro Elmano, muito mais prazeroso. Primeiro, porque nós fomos hoje anunciar que vai ter um data center aqui da TikTok que, ao longo do tempo, vai investir R$ 200 bilhões nesse país”.
Lula
O projeto será instalado no Complexo Industrial e Portuário do Pecém, no Ceará, e prevê investimentos de R$ 200 bilhões nos próximos anos, sendo R$ 108 bilhões destinados a equipamentos de alta tecnologia até 2035. O empreendimento tem parceria das empresas Casas dos Ventos e Omnia e, segundo o governo estadual, deve gerar quatro mil postos de trabalho na primeira fase de obra e operação, entre temporários e permanentes. As empresas também se comprometeram a investir R$ 15 milhões por ano em projetos voltados às comunidades do entorno.
De acordo com o TikTok, o data center será alimentado exclusivamente por energia renovável proveniente de novos parques eólicos e contará com tecnologia de resfriamento em circuito fechado de reuso de água.
Apesar das promessas, o Idec avalia que a narrativa oficial sobre o empreendimento cria uma percepção equivocada. Para a entidade, um data center não produz tecnologia nem gera autonomia tecnológica, tratando-se apenas de uma obra de infraestrutura destinada a abrigar equipamentos de uma empresa estrangeira. O instituto aponta ainda que não há pesquisa, inovação, transferência de tecnologia ou formação de mão de obra especializada associadas ao projeto, e que os impactos reais se concentram no consumo de recursos naturais e na ocupação de território.
O Idec também critica falhas no licenciamento ambiental, que teria autorizado o consumo de água em volume sete vezes maior do que o previsto inicialmente, além de classificar o empreendimento na mesma categoria de um parque de vaquejada. Para o instituto, confiar apenas na boa vontade das autoridades não substitui critérios técnicos nem assegura proteção ambiental.
Na avaliação da entidade, o Brasil não deve confundir infraestrutura intensiva com desenvolvimento tecnológico. O posicionamento reforça que políticas públicas sérias precisam se basear em regras claras, fiscalização efetiva e transparência, com prioridade à proteção dos direitos das populações afetadas.


