Do passado ao futuro: pesquisa resgata a trajetória da língua inglesa no IFCE

O Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE) tem mais de um século de história, desde os tempos da antiga Escola de Aprendizes Artífices do Ceará. Entre os muitos caminhos trilhados pela instituição, a adoção e a consolidação da disciplina de língua inglesa se tornaram um aspecto importante na formação dos estudantes da Educação Profissional e Tecnológica.

Esse tema é o foco da pesquisa de mestrado de Renan Gomes Rebouças, docente de Língua Inglesa do IFCE – Campus Ubajara. Especialista em Gestão Escolar e Coordenação Pedagógica, ele atualmente é mestrando no Programa de Pós-Graduação em Educação Profissional e Tecnológica (PROFEPT/IFCE). Parte de seu trabalho está disponível no site História do Inglês no IFCE, que reúne documentos, fatos e reflexões sobre a trajetória do ensino da disciplina.

Em entrevista ao BILOTO, Renan falou sobre a motivação para a pesquisa, os desafios de lidar com arquivos históricos e os caminhos futuros de seu trabalho.


Como surgiu a ideia de pesquisar a história da disciplina de inglês no IFCE? Eu precisava ter um tema para pesquisar, e eu sempre me interessei por documentário, pesquisa histórica, investigação historiográfica, essas coisas. Então pensei: “vou procurar ver se já existem muitos trabalhos historiográficos sobre a disciplina escolar de inglês no IFCE”. Para minha surpresa, praticamente não havia nada. A única obra que encontrei não estava em periódicos da CAPES, não era tese, dissertação ou artigo. Foi um livro que eu já tinha na minha biblioteca pessoal, o “Yes, Nós Temos Memória“. Um dos capítulos se chama justamente Língua Inglesa no IFCE, mas traz apenas um breve relato de memória, não uma pesquisa documental. O ponto de partida foi isso: gostar de documentário, querer pesquisar história e preencher essa lacuna, trazendo um olhar mais documental.

Renan Rebouças, professor e pesquisador do IFCE
Renan Rebouças, professor e pesquisador do IFCE

“Hoje, a política linguística do IFCE sinaliza pra um currículo plurilíngue, mas na prática a hegemonia é do inglês. Pesquisei como essa hegemonia foi construída desde a década de 1960, quando a disciplina foi adotada, e vejo que até hoje ela permanece”

O que mais chamou a sua atenção nesse percurso? O que mais me chamou a atenção foi a dificuldade de encontrar fontes primárias, documentos antigos. Não sei se isso aconteceu pela minha pouca experiência com investigação historiográfica ou pela desorganização dos arquivos permanentes da instituição – que é centenária. Nos bastidores da pesquisa, não posso deixar de falar: alguns espaços de arquivo estavam muito precários. No arquivo permanente, no Campus Fortaleza, havia livros de matrícula da década de 1950 e balancetes molhados por goteiras. Eu fui em maio, passei dois ou três dias pesquisando, e chovia tanto que foi difícil até de respirar, de tão úmido. Mas também tive experiências muito positivas. O Memorial do IFCE, coordenado pelo professor Solon, foi fundamental. Ele me acolheu muito bem, deu orientações preciosas e até me presenteou com um livro sobre a história da instituição, publicado recentemente. Esse espaço é muito bonito, bem cuidado, e realiza visitas guiadas com escolas. Então, enquanto nos arquivos encontrei dificuldades, no memorial encontrei um apoio enorme.

Quais os próximos passos da pesquisa? Pretendo transformar a dissertação em livro. O professor Solon, curador do Memorial, me sugeriu ficar atento aos editais da editora do IFCE, que publica obras históricas de forma gratuita. Então, esse é um caminho possível. Do ponto de vista teórico, utilizei o materialismo histórico-dialético como paradigma epistemológico, que busca sempre pensar nas contradições e nas sínteses históricas. O que vislumbro, a partir disso, é uma transformação social que passa pela política linguística da instituição. Hoje, a política linguística do IFCE sinaliza pra um currículo plurilíngue, mas na prática a hegemonia é do inglês. Pesquisei como essa hegemonia foi construída desde a década de 1960, quando a disciplina foi adotada, e vejo que até hoje ela permanece. O que defendo é que o IFCE dê espaço a tantas línguas quanto for possível, valorizando também o espanhol, o francês, o mandarim e outras. Afinal, a educação profissional tecnológica defende a formação humana integral, que inclui acesso à diversidade cultural. A língua é um veículo essencial da cultura, então quanto mais línguas forem ofertadas, mais possibilidades de acesso cultural os estudantes terão. É isso que busco com minha pesquisa: que a instituição, de fato, ponha em prática sua proposta plurilíngue, formando cidadãos do mundo não apenas pelo inglês, mas também por outras línguas.

+ Foto principal: Laboratório de línguas do IFCE, na decada de 1970, quando era usado principalmente para curso técnico em Turismo. A imagem ilustra o capítulo “Yes, Nós temos língua inglesa no IFCE”, do livro “Yes, nós temos memória”, escrito pela professora Sarah Ribeiro e lançado em 2015.

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