O Rio de Janeiro sedia até esta sexta-feira (24 de outubro) a primeira edição brasileira do Festival Internacional de Cinema Canábico (FICC), um evento que usou o poder do audiovisual para desconstruir estigmas e aprofundar o complexo debate sobre a regulamentação da cannabis no Brasil. O festival, realizado entre os dias 20 e 24, encerra sua mostra de cinco dias com a cerimônia de premiação na noite de hoje.
Com a missão de “ampliar perspectivas culturais a partir de uma visão socialmente comprometida” , o FICC reuniu mais de 40 obras de 15 países, utilizando o cinema como uma ferramenta de transformação social, geradora de conscientização e reflexão. O evento é dirigido por Alejo Araujo, com a produção executiva da edição carioca a cargo de Francisco Ferraz.
A estrutura do festival garantiu sua chancela institucional, com atividades principais realizadas no Centro Cultural da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (COART/UERJ) e o apoio ouro da APEPI (Associação de Pacientes de Cannabis), que sediou parte da programação em sua Casa, em Botafogo. Essa estratégia buscou mover a discussão da cannabis do nicho ativista para o domínio da Saúde Pública e dos Direitos Humanos, dando voz, em especial, às periferias urbanas afetadas pelo proibicionismo.
Destaques e Ativismo na Tela
A mostra competitiva oficial do FICC Rio 2025 apresentou 24 filmes, divididos entre longas-metragens de ficção e documentário, além de curtas, com forte representação nacional em obras como A Planta e Quanto custa o remédio do meu pai?. A diversidade global foi notável, com produções da Tunísia, Coreia do Sul, Uruguai e República Dominicana.
Como grande destaque da programação, o festival promoveu o lançamento nacional do documentário Cheech & Chong’s – Last Movie , celebrando a icônica dupla de comediantes que marcou a cultura canábica mundial por mais de 50 anos.
Outro filme com forte peso político foi o documentário Queimando Fronteiras, que detalha o processo de legalização do autocultivo medicinal na Argentina. A exibição dessa obra serviu como um contraponto direto à rigidez regulatória brasileira.
O Contexto do Debate Regulatório
A realização do FICC ocorre em um “momento decisivo” para a regulamentação da cannabis no Brasil. Enquanto o Superior Tribunal de Justiça (STJ) validou recentemente o cultivo medicinal por empresas — exigindo regulamentação em até seis meses para reduzir o alto custo dos produtos importados —, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) mantém uma postura restritiva, liberando o plantio apenas para empresas farmacêuticas ou instituições de pesquisa.
Ao humanizar a causa e apresentar as consequências da criminalização, o cinema atua como uma contrapressão cultural e social contra a inércia regulatória. A cerimônia de premiação desta sexta-feira (24) definirá os vencedores em quatro categorias por júri especializado, além de premiar o Melhor Filme pela Escolha do Público.
O FICC Rio 2025 se consolida como um catalisador, injetando arte e ativismo em um debate dominado por questões jurídicas e econômicas, e pavimentando o caminho para futuras edições no Brasil.
Mais informações: https://festivalcinecannabico.com.br/